Editorial

Irresponsabilidade com assunto sério

Para além do transe coletivo em que parte da população brasileira mergulhou, a ponto de ocupar espaços públicos há quase um mês em manifestações inconstitucionais e protagonizar cenas como pedidos de socorro a alienígenas ou cantar o Hino Nacional para pneus, há uma perigosa e crescente irresponsabilidade dentro da institucionalidade, sobretudo de alguns partidos e políticos. São praticamente diárias as demonstrações disso.

A mais recente tentativa _ ao menos até o momento em que este Editorial é escrito _ de tumultuar ainda mais o ambiente em um País já suficientemente confuso é a ação apresentada pelo PL ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) contestando o resultado da eleição. De acordo com o argumento de líderes da sigla, 279,3 mil urnas eletrônicas usadas no processo de votação em 2022 (o equivalente a 59,18% do total) teriam apresentado “mau funcionamento”. O principal problema viria a ser o fato de que equipamentos de modelos mais antigos, anteriores a 2020, teriam um mesmo número de identificação de patrimônio, podendo dificultar a fiscalização. Algo que, como apontado anteriormente por técnicos do TSE, não representaria risco algum à integridade da eleição, visto que todas as urnas (mais antigas ou recentes) possuem certificados digitais únicos.

O mais estarrecedor deste novo capítulo é o oportunismo explícito do processo. Isso porque o Partido Liberal não questiona a eleição como um todo. Mesmo que as mesmas urnas tenham sido usadas nas votações para deputados estaduais e distritais, deputados federais, senadores, governadores e presidente da República, o objeto da ação patrocinada pela sigla é apenas rever o resultado para o cargo no Poder Executivo federal. Se fosse levada em conta a ideia do PL, o eleito viria a ser Jair Bolsonaro (PL), revertendo o resultado democrático que elegeu Lula (PT).

Contudo, além de entrar com uma ação despropositada diante de todas as evidências de integridade do sistema eletrônico de votação, impressiona o posicionamento do presidente do partido, Valdemar da Costa Neto, buscando eximir a sigla da responsabilidade por atentar contra a vontade da maioria dos brasileiros. Segundo o dirigente, o relatório de um instituto chamado Voto Legal, que serve de argumento para a ação, “não expressa a opinião do Partido Liberal”. Seria algo feito por especialistas e que deveria ser levado em conta para garantir a integridade da eleição.

Posturas como essa, ao contrário do que buscam fazer transparecer, em nada colaboram para aperfeiçoar o sistema eleitoral. Servem apenas como combustível para mais conflitos e crises. Uma irresponsabilidade diante do presente e futuro do País.​

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